quinta-feira, 27 de julho de 2017

RESULTADO DO CONCURSO


Olá, preguiçosos!
O momento esperado por muitos chegou! E o vencedor do concurso um conto que eu te conto foi...


 LUCAS RODRIGUES


  Bom, o Lucas escreveu um conto baseado em Harry Potter, e nos critérios pré-estabelecidos ele foi o melhor! 
  Ao todo recebemos 4 contos dos mais variados eixos temáticos. Gostamos tanto do resultado que decidimos premiar todos os participantes, além disso, nós iremos disponibilizar todos os contos no Facebook do blog durante a próxima semana.
  Agora vamos ao que interessa, o conto vencedor:


Próxima parada: Hogwarts

O dia 23 de fevereiro começou em uma quarta-feira chuvosa, a qual muitos diriam ter nuvens que caracterizam um dia feio, mas eu gostei. A melancolia que pairava me permitia desfrutar da minha própria existência sem problemas. Ainda não acreditava que eu ganhei uma bolsa de 100% no curso que queria e começaria a estudar dali a cinco dias, mas isso não era a única coisa que rondava a minha cabeça. Completar 18 anos implica em muitas responsabilidades, das quais eu gostaria de fugir a qualquer custo, como se eu pudesse voltar no tempo ou experimentar uma nova vida.

Eu abri a janela para tentar sorver um pouco de ar e tirar o mofo das paredes, já que estava começando a sentir que a rinite voltaria com força, mesmo que estivesse em pleno verão.

“Wooosh”
Vejo um vulto plumado passar por cima das samambaias e deixar cair uma carta em minha cama. Era de papel pardo e novo, selada por uma estampa a qual eu reconheci de imediato: o brasão de Hogwarts.
Desde que descobri o universo de Harry Potter aos onze anos, sempre quis visitar o lugar. Era tudo muito mágico e fácil para aquelas pessoas, não à toa a autora J.K. Rowling tinha milhões de fãs no mundo e um bilhão no banco. Me desvencilhando do antro de fantasias tentador que aquilo proporcionava, me deparava com a dura verdade. Mas hoje, vendo aquele pedaço de papel intocado na minha cama que a muito precisava de uma limpeza, eu percebi uma centelha de esperança vindo de dentro que logo sumiu em desilusão:
— Bobagem — murmurei. Como minha laje era baixa, os garotos da casa ao lado poderiam estar me pregando uma boa peça.
Logo repensei minha dedução, lembrei que estes nunca foram entusiasmados com a leitura, tampouco se interessavam por coisas que realmente valiam a pena, em minha opinião. Com um golpe de felicidade rasguei a parte de cima da carta, tomando cuidado com o interior, e li.
Era idêntica à original, com os cantos amarronzados e letra característica. Me contive; já era a segunda vez que uma coisa tão surpreendente me acontecia esse ano, mas o meu ceticismo cismava em duvidar.
— Bom, caso isso seja verdade, vou precisar ir até Londres e ter dinheiro para fazer as compras, como se fosse possível — disse, com um ar debochado. 
Imediatamente me senti comprimido em um espaço pequeno e rumando para sabe-se-lá-onde em alta velocidade.
Tinha caído violentamente em um lugar cujo piso era ladrilhado e de pedra, via algumas moedas douradas, prateadas e de bronze ao meu lado dentro de um saco – as quais eu reconheci como o dinheiro bruxo, galeões, sicles e nuques – e muita gente andando de um lado para o outro: o Beco Diagonal apareceu diante dos meus olhos em questão de segundos.
Mal podia acreditar no que estava vendo. Eu até tinha esquecido de me preocupar pelo fato de ter me teleportado misteriosamente para longe de casa. Minha primeira reação foi a de ir até a loja de vestes e logo depois à de livros e às restantes, comprando todo o material necessário. Tive sorte, pois já sabia falar inglês e não enfrentei problemas em compreender os vendedores. Jovens com as faces rubras de frio encaravam vassouras voadoras "de performance única! (poucas no estoque)", enquanto outros estavam apressadíssimos para começar o ano letivo. O entusiasmo me tomou de tal forma que eu pensei que enfartaria alí mesmo.
— Uma varinha... se bem conheço a saga, deve ser alí! — apontei para uma loja com uma placa escrita "Oliwanders" e entrei, quase correndo.
— Os jovens de hoje em dia estão cada vez mais apressados — disse uma voz entediada e untuosa.
Em minha frente estava um senhor que parecia beirar os noventa anos, com olhos muito grandes e azuis, uma expressão de curiosidade e, bem levemente, de cansaço no rosto.
Ele então perguntou meu nome e começou a tirar minhas medidas, me enchendo de perguntas sobre como eu lidaria em certas situações.
— Bem, senhor Lucas, tenho duas varinhas que suspeito serem compatíveis com o que acabei de aferir — disse, me mostrando duas caixinhas compridas.
— A primeira — prosseguiu — é de Faia. Vinte e oito centímetros e meio. Núcleo de pelo de unicórnio. Resistente. — mostrou uma varinha muito bonita, de um cor-de-pele visualmente limpo. Ofereceu para que eu experimentasse.
Brandi a varinha com uma tosca pose e, apesar da magia ter saído, foi imprecisa, derrubando uma estante no processo.
— A varinha de Faia é destinada àqueles com a mente aberta e que possuem muita sabedoria para a idade que têm, no caso dos jovens — explicou — mas nunca funcionaria nas mãos de alguém intolerante. Sua magia foi bem executada, chegou perto, mas ainda não é o ideal — guardou a varinha de volta e me colocou a outra em punho.
Senti imediatamente um calor aconchegante no meu corpo, que me deu uma súbita coragem e aumentou minha autoestima. A varinha que estava segurando era de uma madeira tão negra quanto mogno, que refletia a luz de maneira majestosa. No centro do cabo, uma joia laranja de formato rômbico brilhava intensamente.
— Ah sim, o senhor encontrou! — exclamou, uma expressão de entusiasmo assombrava seu rosto — Nogueira negra. Vinte e nove centímetros. Núcleo de pelo de unicórnio. Dura e inflexível. Pelo que bem sei, essa varinha escolhe aqueles que possuem um autoconhecimento invejável e que tenham um bons... como vocês dizem mesmo? Ah sim, "insights". Meus parabéns!
— Obrigado! — eu disse, enquanto pagava os 17 galeões e saia muito feliz da loja.
Como já havia comprado tudo que precisava, entrei na loja de animais e adotei uma doninha bem branca, que nomeei Montblanc. O animal parecia surpreso de ter saído daquele lugar com facilidade.
— Bem, agora o ingresso para a plataforma nove e meio... — pensei, já me desanimando, pois não havia achado nada referente junto daquela sacola de moedas.
Imediatamente sinto um volume no bolso da camisa. Era um papel cartão com os dizeres "EXPRESSO HOGWARTS - Plataforma 9" 1/2" em letras garrafais — Ótimo, muito conveniente. Agora a plataforma...
— Ei, amigo — disse uma voz ao meu lado.
Era um jovem de cabelos castanhos e bagunçados, sardas no rosto e barba bem rala. Parecia ter a mesma idade que eu.
— Então você também foi transportado pra cá? — disse, com um forte sotaque irlandês.
— Sim, sabe por que isso aconteceu? — perguntei, desesperado. Finalmente uma chance para explicações.
— Vou te mostrar o caminho para a plataforma também — ofereceu — a propósito, meu nome é Rory McHill, muito prazer.
— Meu nome é Lucas Rodrigues — falei, devolvendo a mesura.
Ele me explicou enquanto caminhávamos que, para a surpresa de todos, o mundo bruxo existia de fato e foi criado quando J.K. Rowling, a autora, foi obrigada a estudar o Wicca para fazer sua saga verossímil. Os detalhes foram tantos que o universo dos livros foi criado paralelamente em um dos rituais. Foi só quando o filme "Animais Fantásticos e Onde Habitam" saiu que os indícios ficaram aparentes, talvez por questões de discriçâo.
Eu o ouvi durante um bom tempo, até que me dei conta do quão fácil eu tinha engolido tudo aquilo. Eu fui subitamente teleportado de uma vida rumando ao sucesso e parecia não sentir nenhum sinal de frustração ou saudade. Talvez a fantasia e o contato com ela mostre quem realmente quis fugir da realidade, e suspeito que somente estas pessoas tenham sido escolhidas para fazer parte.
Quando chegamos à estação, fizemos o ritual dos fanboys de Harry Potter ao atravessar o pilar da plataforma correndo, tomando cuidado com turistas curiosos.
O outro lado era de uma paisagem estonteante, o trem pintado em vermelho fumegava, pronto para partir. Colocamos nossas bagagens no local apropriado, pusemos as vestes e subimos.
Foi uma viagem tranquila e rápida. Perguntei ao Rory se o sistema de ensino de Hogwarts tinha mudado para acomodar recém-formados. Ele deu de ombros, mas, considerando as pessoas que vi em outras cabines, suspeitava ser isso mesmo.
Ao chegar no castelo, fomos de barco até a entrada, sendo guiados pelo guarda-caça atual. Estavamos numa linha de tempo diferente e, portanto, não esperei dar de cara com Dumbledore, pois sabia que este tinha morrido. Mas minha decepção foi curada pela grandiosidade do lugar.
A cerimônia das casas foi logo iniciada depois das apresentações. Ivana Dimitri, uma bonita garota russa, foi para Hufflepuff, equanto que Cayènne Disereé foi elegida em Gryffindor. Rory foi o terceiro.
— Boa sorte, desejei.
Um minuto se passou até o chapéu seletor gritar a casa do meu mais novo amigo:
— RAVENCLAW!
Palmas elegantes sairam da mesa dos corvinos, Helena Ravenclaw, a fantasma da casa, saiu momentaneamente de sua depressão. Não demorou muito para que Lee Kim-zao, o estereótipo de asiático inteligente, também virasse um membro.
— Lucas Rodrigues, por favor — disse a censora, uma senhora baixa e esguia, com cara de quem viu de tudo na vida e gostou de muito pouco.
Sentei no banquinho e aprumei o chapéu sob minha cabeça. Imediatamente ele começou a dançar e cantarolar:
"Agora vejamos o que essa pessoa tem para mostrar
Não é das mais corajosas, não há como negar
Tem ambição e uma vontade de provar seu valor
É individualista, egocêntrico, tem medo da dor
E possui uma inteligência acima do normal
Por fim o dilema: Slytherin ou Ravenclaw?"
Ouvi a última casa e logo me imaginei convivendo com Rory, seria muita coincidência e clichê. Lembrei que os corvinos costumam aceitar o diferente com facilidade, estava deduzindo que seria como previ, mesmo que os testes em Pottermore dissessem o contrário, até que uma súbita torrente de memórias invadiu minha cabeça.
Lembrei de como era no mundo dos trouxas, de como minha professora do segundo ano do fundamental disse que eu não conseguia fazer nada e como eu não seria nada na vida, lembrei também dos meus colegas rindo às minhas custas e zombando dos meus esforços, de como eu só tinha conseguido o que consegui por pura força de vontade de prová-los errados, de quantas caras-de-bunda e sorrisos amarelos eu presenciei com os meus sucessos, um por um, e o meu prazer em saber que cada um deles tinha aprendido a lição de pensar duas vezes antes de subestimar alguém.
Imediatamente após a última visão, o Chapéu Seletor disse em meus pensamentos:
— Então estamos entendidos — e bradou em alto e bom tom seu veredicto:
— SLYTHERIN!
Urros e bateção de mãos da mesa dos sonserinos, o brasão da cobra tinha brilhado mais forte, o Barão Sangrento olhava como se um inquilino indesejado adentrasse sua casa. Foi contagiante.
Sentei no banco de madeira e vi pessoas de diferentes partes do mundo, com seus dezoito, dezenove anos, muitos tinham expressão de desdém na cara, outros pareciam simplesmente ricos. E então tinha eu.
Ouvimos o sermão do diretor e andamos em direcão ao dormitório no fim do banquete, já com o cronograma em mãos.
O dormitório de Slytherin era... verde. Muito verde e bonito. As janelas tinham um tom de verde que pintava o mar de Hogwarts de maneira majestosa. Vez ou outra, pequenas ondas batiam nelas, fazendo um barulho agradável para se dormir. Era um lugar que parecia uma mansão mal-assombrada que estava sendo reabitada por estranhos. Puxei o dossel de minha cama e vi Montblanc, a doninha, nos pés dela. Me aconcheguei ao saber que todas a minhas coisas estavam lá e pensei em conhecer pessoas novas, ver o Rory no período de aula que os corvinos têm junto com os sonserinos, aprender mais e mais.
Como eu iria passar as férias de verão? Será que eles fizeram um feitiço para colocar memórias nos meus pais e assim os forçarem aceitar tudo? Quem sabe. A magia abre portas para muitas justificativas, e foi com essa certeza que dormi em alívio. Aquela finalmente parecia uma nova vida.

2 comentários:

  1. Parabéns, Lucas. Adorei o conto, mandou super bem. Ainda mais explorando esse universo Harry Potter. Parabéns às meninas também valorizando todos os participantes.

    *☆* Atraentemente *☆*

    ResponderExcluir